quarta-feira, 16 de setembro de 2020

MARIA CAROLINA WANDERLEY CALDAS

 



SINHAZINHA WANDERLEY, PATRONA DA ACADEIRA Nº 11, DA ACADEMIA ASSUENSE DE LETRAS, QUE ETEM COMO ACADEMICO FRANCISCO JOBIELSON DA SILVA

 

 

Sinhazinha Wanderley foi uma das escritoras que colaboraram para a construção da “Terra dos Verdes Caunaubais Assuenses”, epíteto projetado em relação ao Assú imputando a esta cidade o cenário de uma paisagem verdejante em pleno sertão nordestino. Conforme Santos e Barros, à “Terra dos Verdes Caunaubais Assuenses” ao lado dos epítetos “Terra dos Poetas” e “Atenas Norte-Rio-Grandense” foram construções espaciais operadas no sentido de fornecer visibilidade para a cidade de Assú.11 Ainda no que diz respeito aos versos acima, deve-se atentar para o caráter saudoso que Sinhazinha encerra seus versos, relembrando, assim, um passado ditoso, o que já apresenta a tônica de seus discursos.

 

Assim, mediante o conhecimento da cena que forneceu base às palavras de Sinhazinha, uma das primeiras críticas que ela faz diz respeito aos bailes.12 A mesma esclarece que “os bailes antigos (contavam-me os olhos) eram muito diferentes dos de hoje. Só comparecia a elite”. A escritora narra as festas dançantes de outros tempos, oportunidade em que comparecia a elite local, o que transparece certos atos de exclusão social na cidade naquele momento. A festa era espaço de atos cavalheirescos, de respeito pelas moças, ao passo que o homem convidava respeitosamente a senhorita para dançar dizendo: “Vossa Excelência’ dá-me a honra”? Após descrever os bailes antigos, critica os novos jeitos de dançar e de se divertir:

 

Essa declaração de sinhazinha denota a diferença entre modos e comportamentos festivos de sua época de infância e mocidade, contrastando com os anos finais de sua vida. Ela reprovava os atos alimentares que ocorria nos novos bailes, incluindo, também, os tipos de bebidas “loucas” que aparecem em tais festas. Censura as novas danças e os comportamentos das moças frente a estes momentos dançantes, transparecendo certa decepção com o cotidiano da juventude assuense

É preciso considerar que este é um momento que Sinhazinha Wanderley se depara com uma nova conjuntura cultural, respingada do contexto nacional, pois, conforme Ortiz, o período entre 1945 a 1964 no Brasil foi marcado por uma forte efervescência e criatividade cultural, oportunidade em que “as novas tecnologias: rádio, televisão, cinema, disco, abriram as perspectivas para experiências, as mais diversas possíveis”.14 Deve-se considerar a emergência de um maior público urbano, incluindo os jovens, como participante de tais elementos culturais

Como já evidenciado, o momento em que Sinhazinha escreveu corresponde ao início da década de 1950, período pós-guerra em que se registram novos marcos influenciadores do cotidiano, a exemplo da filosofia existencialista e sua visão de um sujeito construtor de si, um pensamento que buscava um ser livre, oportunidade em que os franceses Jean Paul Satre e Simone de Beauvoir pregavam que seria através da liberdade que o homem escolheria o que queria ser. Essa perspectiva existencialista também colaborou para a ebulição de um “mundo jovem”, para que este segmento pudesse reivindicar liberdade, quebrar velhas concepções e valores. Alia-se a isso tudo o surgimento do Rock’n roll americano, um grito musical que buscava sacudir, rolar,

 

fazendo menção aos movimentos sexuais. O rock, em determinadas situações, escandalizava os padrões morais da época.

 

Ainda em referência à década de 1950, registra-se o aparecimento de automóveis, como os cadillacs. O vestuário ganhava a simpatia da jaqueta de couro, da calça rancheira, dos vestidos pensados e costurados por Yves Saint Laurent, embora os moradores de Assu não comprassem indumentárias da Alta Costura, mas tinham roupas inspiradas nos cortes e recortes desse estilista. Esse conjunto de coisas corresponde ao momento em que “[...] nossa classe média cada vez mais assimilava padrões de comportamento vindos de fora”.15 Inclusive, entre estes padrões encontra-se o cinematógrafo, oportunidade em que comportamentos como o do herói rebelde ganhou destaque.

Esse contexto de mudanças no cenário nacional paulatinamente atravessa o espaço vivencial e sentimental de Sinhazinha Wanderley, pois deve-se levar em conta alguns fatores, tais como o aumento demográfico em Assú, com uma população estimada, em 1957, em torno de 32 mil habitantes. 16 O fluxo de carros nas imediações e dentro da cidade crescia com a construção de estradas. 17 Até 1945, o município apresentava uma frota de 32 veículos a motor que circulavam em seu território, o que implica pensar que, com os investimentos em pavimentações e rodovias na proximidade do centro urbano, esse número tenha aumentado.18

 

Nesse contexto de remodelação espacial, Dona Sinhazinha sentia o cheiro de uma cidade mesclada por aspectos antigos e modernos, tanto é que no soneto “Assu das 11 horas”, a poetisa traduzia o cotidiano de sua cidade:

 

São horas de almoçar, há movimento,

Badala no mercado uma sineta

 FONTE - Fênix – Revista de História e Estudos Culturais

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