SINHAZINHA
WANDERLEY, PATRONA DA ACADEIRA Nº 11, DA ACADEMIA ASSUENSE DE LETRAS, QUE ETEM
COMO ACADEMICO FRANCISCO JOBIELSON DA SILVA
Sinhazinha Wanderley foi uma das escritoras que colaboraram para a
construção da “Terra dos Verdes Caunaubais Assuenses”, epíteto projetado em
relação ao Assú imputando a esta cidade o cenário de uma paisagem verdejante em
pleno sertão nordestino. Conforme Santos e Barros, à “Terra dos Verdes
Caunaubais Assuenses” ao lado dos epítetos “Terra dos Poetas” e “Atenas
Norte-Rio-Grandense” foram construções espaciais operadas no sentido de
fornecer visibilidade para a cidade de Assú.11 Ainda no que diz respeito aos
versos acima, deve-se atentar para o caráter saudoso que Sinhazinha encerra
seus versos, relembrando, assim, um passado ditoso, o que já apresenta a tônica
de seus discursos.
Assim, mediante o conhecimento da cena que forneceu base às palavras de
Sinhazinha, uma das primeiras críticas que ela faz diz respeito aos bailes.12 A
mesma esclarece que “os bailes antigos (contavam-me os olhos) eram muito
diferentes dos de hoje. Só comparecia a elite”. A escritora narra as festas
dançantes de outros tempos, oportunidade em que comparecia a elite local, o que
transparece certos atos de exclusão social na cidade naquele momento. A festa
era espaço de atos cavalheirescos, de respeito pelas moças, ao passo que o
homem convidava respeitosamente a senhorita para dançar dizendo: “Vossa
Excelência’ dá-me a honra”? Após descrever os bailes antigos, critica os novos
jeitos de dançar e de se divertir:
Essa declaração de sinhazinha denota a diferença entre modos e
comportamentos festivos de sua época de infância e mocidade, contrastando com
os anos finais de sua vida. Ela reprovava os atos alimentares que ocorria nos
novos bailes, incluindo, também, os tipos de bebidas “loucas” que aparecem em
tais festas. Censura as novas danças e os comportamentos das moças frente a
estes momentos dançantes, transparecendo certa decepção com o cotidiano da
juventude assuense
É preciso considerar que este é um momento que Sinhazinha Wanderley se
depara com uma nova conjuntura cultural, respingada do contexto nacional, pois,
conforme Ortiz, o período entre 1945 a 1964 no Brasil foi marcado por uma forte
efervescência e criatividade cultural, oportunidade em que “as novas
tecnologias: rádio, televisão, cinema, disco, abriram as perspectivas para
experiências, as mais diversas possíveis”.14 Deve-se considerar a emergência de
um maior público urbano, incluindo os jovens, como participante de tais
elementos culturais
Como já evidenciado, o momento em que Sinhazinha escreveu corresponde
ao início da década de 1950, período pós-guerra em que se registram novos
marcos influenciadores do cotidiano, a exemplo da filosofia existencialista e
sua visão de um sujeito construtor de si, um pensamento que buscava um ser
livre, oportunidade em que os franceses Jean Paul Satre e Simone de Beauvoir
pregavam que seria através da liberdade que o homem escolheria o que queria
ser. Essa perspectiva existencialista também colaborou para a ebulição de um
“mundo jovem”, para que este segmento pudesse reivindicar liberdade, quebrar
velhas concepções e valores. Alia-se a isso tudo o surgimento do Rock’n roll
americano, um grito musical que buscava sacudir, rolar,
fazendo menção aos movimentos sexuais. O rock, em determinadas
situações, escandalizava os padrões morais da época.
Ainda em referência à década de 1950, registra-se o aparecimento de
automóveis, como os cadillacs. O vestuário ganhava a simpatia da jaqueta de
couro, da calça rancheira, dos vestidos pensados e costurados por Yves Saint
Laurent, embora os moradores de Assu não comprassem indumentárias da Alta
Costura, mas tinham roupas inspiradas nos cortes e recortes desse estilista.
Esse conjunto de coisas corresponde ao momento em que “[...] nossa classe média
cada vez mais assimilava padrões de comportamento vindos de fora”.15 Inclusive,
entre estes padrões encontra-se o cinematógrafo, oportunidade em que
comportamentos como o do herói rebelde ganhou destaque.
Esse contexto de mudanças no cenário nacional paulatinamente atravessa
o espaço vivencial e sentimental de Sinhazinha Wanderley, pois deve-se levar em
conta alguns fatores, tais como o aumento demográfico em Assú, com uma
população estimada, em 1957, em torno de 32 mil habitantes. 16 O fluxo de
carros nas imediações e dentro da cidade crescia com a construção de estradas.
17 Até 1945, o município apresentava uma frota de 32 veículos a motor que
circulavam em seu território, o que implica pensar que, com os investimentos em
pavimentações e rodovias na proximidade do centro urbano, esse número tenha
aumentado.18
Nesse contexto de remodelação espacial, Dona Sinhazinha sentia o cheiro
de uma cidade mesclada por aspectos antigos e modernos, tanto é que no soneto
“Assu das 11 horas”, a poetisa traduzia o cotidiano de sua cidade:
São horas de almoçar, há movimento,
Badala no mercado uma sineta
FONTE - Fênix – Revista de
História e Estudos Culturais